Quem vigia os vigilantes?

O filme e a série Watchmen, baseados na graphic novel da DC, tornaram novamente pop uma frase recorrente para quem estuda direito ou ciência política: quem vigia os vigilantes? Recentemente, o governo de São Paulo adicionou camadas nas possíveis respostas pra essa questão. A polícia militar do estado fechou uma parceria com o Edge Group, empresa estatal dos Emirados Árabels, para criar o que deve ser o projeto mais incensado da segurança pública do governo Tarcisio de Freitas: o programa Muralha Paulista, um programa de super vigilância que atua com monitoramento de câmeras integradas por todo o estado. Ainda que o programa se mostre eficiente, levanta mais questões do que muralhas.

O uso deste sistema traz diversas questões éticas e legais sobre perfilamento por parte da polícia, que quase sempre (pra não dizer sempre) esbarra na questão racial, abrindo uma oportunidade enorme para situações de racismo algorítmico. Isto sem contar o uso e armazenamento de imagens pelos agentes públicos e a inevitável associação da inteligência artificial nesse processo. E em tempos em que estamos discutindo a regulação de IAs em nível federal, é um cenário delicado que corre mais rápido do que conseguimos acompanhar.

Indo além da/do Muralha, numa pegada meio Minority Report, o Edge Group trabalha atualmente em um sistema chamado "Bola de Cristal" (que nome!), que utilizará as imagens das câmeras de monitoramento para emitir alertas para a polícia militar que antecipem a ação dos criminosos. Não apenas a ideia do programa é contar com o sistema das chamadas câmeras ambientais, instaladas pelo governo para monitorar as cidades, como também estender a verificação de imagens para câmeras de condomínios, de forma que elas auxiliem a busca por criminosos. 

Na última semana, em uma reunião com síndicos de condomínios da região Central de São Paulo, foi feita uma demonstração de como o sistema consegue identificar pessoas. “A gente sempre brinca que é o ‘onde está o Wally’. E o Wally está aqui, ó”, disse na ocasião o coordenador de tecnologia da Secretaria da Segurança Pública (SSP), major da PM Eduardo Fernandes Gonçalves. Na demonstração, foi identificado com dados e exposição de imagens, um homem que cumpria medidas cautelares, mas que circulava pela Cracolândia no momento da demonstração. A ação é ilegal por parte da PM, uma vez que, tal qual vários serviços que utilizamos, não pode exibir dados de terceiros. Diante deste cenário, fica difícil saber até que ponto será possível confiar no trabalho dos agentes públicos no uso destes dados. Encontrar o Wally ao invés de uma solução transparente, legal e ética parece ser mais fácil mesmo.

Kbytes 📡

O deepfake, técnica que altera imagens e áudio em vídeos de maneira realista e quase imperceptível, é oficialmente proibido nos Estados Unidos e aqui no Brasil. Mas não na Índia, a maior democracia do mundo e que neste momento está em um processo eleitoral que termina em Junho. Por lá, estúdios de deepfake criam material de campanha para os candidatos, desde dublar vídeos para os diversos idiomas do país, quanto para gerar ligações telefônicas dos candidatos falando o dialeto local de eleitores. A Wired mergulhou nesse universo e conta a história de Divyendra Singh Jadoun, dono de um desses estúdios de deepfakes, uma indústria crescente e que pode ter implicações sérias para o processo democrático do país. O importante debate é complementado por uma reportagem do Nieman Lab sobre o trabalho de checagem de informações nas eleições indianas em meio a essa onda de deepfakes.

Indian Voters Are Being Bombarded With Millions of Deepfakes. Political Candidates Approve
India’s elections are a glimpse of the AI-driven future of democracy. Politicians are using audio and video deepfakes of themselves to reach voters—who may have no idea they’ve been talking to a clone.

Ainda não sabemos qual vai ser o momento de "tirar da tomada" a inteligência artificial, mas para Eric Schmidt, ex-CEO do Google, talvez seja tarde demais quando percebermos. Segundo o executivo, as IA devem conseguir desenvolver sua própria linguagem e comunicação independentes mais rápido do que a gente imagina ("esse novo mundo deve chegar em até cinco anos, não dez", disse Schmidt). Com o volume de recursos despejado pelas grandes empresas no desenvolvimento destas ferramentas, é bom ficar alerta para não chegarmos num ponto sem um plano. Como disse o próprio Schmidt, "é sempre bom lembrar que existem pessoas más que vão usar essas ferramentas". Assista a entrevista no canal da Noema Mag ou leia por aqui.


A gig economy, modelo de economia baseado em aplicativos que dão a "flexibilidade e a liberdade" (e tome aspas!) para trabalhadores venderem seus serviços, chegou ao conteúdo adulto e fez do OnlyFans a principal plataforma. Lá é possível vender fotos e vídeos íntimos, além de possibilitar que o assinante tenha acesso direto ao creator como parte das vantagens da assinatura. Mas quase ninguém consegue dar conta de responder todos os comentários. A Wired revela como funcionam as agências que recrutam pessoas para trabalhar respondendo comentários em nome de criadores do OnlyFans (além do usod e IA para essa tarefa, claro). E aí, claro, tem de tudo: conteúdo ofensivo, exploração de mão de obra fora dos Estados Unidos e cansaço mental pelas muitas horas de trabalho.

I Went Undercover as a Secret OnlyFans Chatter. It Wasn’t Pretty
Your online influencer girlfriend is actually a rotating cast of low-wage workers. I became one of them.

Bits 💾


Saudades do "Tijolão"? Se você sente falta dos tempos de ouro da Nokia, seus problemas acabaram.

Toque humano: o investimento do Google em IA pode decretar o fim da internet feita por e para humanos? Casey Newton discute neste artigo do Platformer. Explorei este assunto no episódio #262 do RESUMIDO.

Metaleiros: quando ouvir por aí que os jovens estão consumindo metal pesado, pense duas vezes, pode ser outra coisa.

TikTok x EUA: a briga segue e o governo dos EUA agora conta também é processado por criadores (financiados pelo TikTok).

Bolsa IA: A ideia de renda básica universal pode ser uma excelente ideia, diz Geoffrey Hinton, professor da Universidade de Toronto.

Copiloto: a Microsoft anunciou uma linha de computadores customizados para IA.

💰
Apoie o RESUMIDO e ajude a newsletter e o podcast a seguir adiante. Colabore através do PIX ou do Catarse. Pelo preço de um café, você contribui para produção de conteúdo de qualidade toda semana!

Wi-fi forte, internet amiga: o exército fez uma licitação específica DEMAIS pra contratar internet na região amazônica.

Ch-ch-cha-chaaaanges: a interface do Youtube mudou. Quem quiser voltar pra antiga, este youtuber mostra como.

Ch-ch-cha-chaaaanges [2]: além de restaurar o visual do Youtube, o Núcleo explica como fazer o mesmo com o Google.

"Ao primeiro bot que roeu os frios pixels desta newsletter...": Machado de Assis virou hit literário em 2024 por causa do TikTok, é o #booktok em ação.

Batata nas estrelas: Brasil deve contribuir com o Projeto Artemis através da Embrapa.

Nem todo herói usa capa: sse app desenvolvido em tempo recorde está salvando pessoas no Rio Grande do Sul.

🆘 Ajude o Rio Grande do Sul! 🆘

Existem muitas maneiras de ajudar o estado no meio desta crise. Separamos aqui o PIX de algumas instituições que estão trabalhando em diferentes frentes:

Pega a visão 👁️

Um meteoro passou por Portugal e Espanha no último fim de semana. O objeto brilhante que riscou o céu da península Ibérica em tons verde-azulados era um pedaço de um cometa que se desprendeu e entrou na atmosfera terrestre a 160km/h, brilhando mais do que a lua cheia. Obviamente sobraram registros do fenômeno, mas nenhum viralizou tanto quando o desta garota portuguesa.

Escuta aí! 🎧


Uma playlist de curadoria 100% humana, atualizada toda semana, com o melhor do que escutei recentemente.


Quero saber o que achou da newsletter, envie sua opinião por e-mail ou pelo Instagram. E não deixe de escutar o episódio mais recente do podcast.

Até semana que vem! 🤙

Read more